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Estudo comparativo entre as concentrações de hormônios reportados em matrizes ambientais aquosas no Brasil e no exterior

Resumo

Desreguladores endócrinos (DE) segundo a Environmental Protection Agency (USEPA, 2016), são agentes exógenos que podem imitar ou bloquear os hormônios naturais, como também estimular e inibir o sistema endócrino, causando subprodução ou superprodução de hormônios. Dentre os DE, existem os estrogênios naturais, que são excretados diariamente pela urina dos animais mamíferos, e os hormônios sintéticos, presentes nos anticoncepcionais. Essas substâncias portanto, atingem as águas superficiais devido ao lançamento de efluentes domésticos, chegando até as fontes de captação para o abastecimento humano. O estudo relata dados de concentrações em diversas matrizes, publicadas em trabalhos entre 1989 a 2016, onde há a comparação das concentrações do Brasil e do exterior, dos hormônios 17α-etinilestradiol (EE2), 17β- estradiol (E2), estrona (E1) e o estriol (E3). Para afluente de ETE, a mediana brasileira do EE2 chega a ser quase 45 vezes maior que a mediana referente aos dados internacionais. Já nas águas superficiais, verifica-se que todas as medianas apresentaram-se abaixo de 40 ng.L-1, porém as brasileiras ainda foram superiores, o que pode estar relacionado com a falta de tratamento dos efluentes domésticos no Brasil, uma vez que apenas 40,8% destes são tratados. Na água tratada, todas as medianas internacionais mantiveram-se abaixo de 4 ng.L- 1, já as nacionais variaram de 1,5 a 472 ng.L-1, alertando para a saúde humana.

Introdução

Há uma crescente busca por entendimento sobre o que é e como funcionam os desreguladores endócrinos (DE), essas substâncias que segundo a Environmental Protection Agency (USEPA, 2016) são agentes exógenos que podem imitar os hormônios naturais, gerando no corpo respostas excessivas ao estímulo, ou respondendo em momentos inadequados. Além disso, alguns DE bloqueiam o efeito de hormônios, enquanto outros estimulam e inibem o sistema endócrino diretamente, causando subprodução ou superprodução de hormônios.

A ação dos desreguladores endócrinos já foi descrita em diversos estudos que relataram anomalias na reprodução de animais, redução na quantidade de esperma, maior incidência de doenças e ocorrência de alguns tipos de câncer em humanos (ROBINSON et al., 2002; KÖGER et al., 2000; SWEENEY et al., 2015; POLYZOS et al., 2012; KABIR et al., 2015). A água é o principal meio para que os seres vivos entrem em contato com os DE, mas mesmo com as baixas concentrações encontradas, na ordem de μg.L-1 e ng.L-1, diversos estudos têm relatado que essas substâncias podem causar efeitos negativos (EERTMANS et al., 2003; MILLA et al., 2011; MILLS et al., 2005).

Segundo Bila (2005), os DE podem ser classificados em: substâncias sintéticas utilizadas na agricultura e seus subprodutos, como pesticidas, herbicidas, fungicidas e moluscicidas; substâncias sintéticas utilizadas nas indústrias e seus subprodutos, dioxinas, PCB (Bifenilas Policloradas), alquilfenóis e seus subprodutos, HAP (Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos), ftalatos, bisfenol A, entre outros; substâncias naturais, como fitoestrogênios, tais como, genisteína e metaresinol e os estrogênios naturais 17β-estradiol, estrona e estriol; e compostos farmacêuticos, como o DES (Dietilestilbestrol) e o 17α-etinilestradiol.

Os estrogênios naturais são excretados diariamente pela urina dos animais mamíferos, e são eles responsáveis pelo desenvolvimento das características femininas. Já os hormônios sintéticos, como o 17α-etinilestradiol (EE2), são componentes de pílulas anticoncepcionais e de tratamento de reposição hormonal. O 17β-estradiol (E2), é o estrogênio com maior atividade estrogênica, sendo a estrona (E1) e o estriol (E3), seus derivados. A tabela 1, explicita a quantidade desses hormônios excretada diariamente por humanos.

(…)

Autores: Thamara Costa Resende; João Monteiro Neto; Taiza dos Santos Azevedo; Sue Ellen Costa Bottrel e Renata de Oliveira Pereira.

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