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Utilização de sensoriamento remoto orbital para estimativa da concentração de sólidos dissolvidos totais e da turbidez da água do lago Paranoá

Resumo

O monitoramento de parâmetros de qualidade da água é indispensável para uma boa gestão de recursos hídricos. Tradicionalmente, o monitoramento é realizado por meio de amostragem in situ seguida de análise laboratorial das amostras coletadas. Entretanto, esse método não possibilita análise temporal nem espacial, além de ser oneroso. Nesse sentido, a utilização de técnicas de sensoriamento remoto consiste em alternativas para o monitoramento, possibilitando a análise espacial e temporal dos parâmetros de qualidade. O presente trabalho tem como objetivo avaliar a utilização de imagens do sensor orbital Landsat8 convertidas em radiância no topo da atmosfera para estimativa da concentração de sólidos dissolvidos totais e de turbidez da água superficial do Lago Paranoá, localizado em Brasília – DF.

Introdução

No âmbito do saneamento ambiental, o conceito de qualidade da água é muito amplo, extrapolando a caracterização da água por sua fórmula molecular (H2O), pois as propriedades de solvente e de transporte de partículas pertencentes à água implicam na incorporação de impurezas, as quais indicam sua qualidade (Von Sperling, 2005).

Qualidade da água é uma descrição genérica dada a propriedades da água em termos físicos, químicos, térmicos e/ou características biológicas. É difícil definir um padrão de qualidade da água que abranja a todos os seus múltiplos usos e às necessidades de seus usuários utilizando um mesmo conjunto de parâmetros, uma vez que sua definição depende do uso a qual será destinada. Por exemplo, parâmetros físicos, químicos e biológicos que indicam que a água é adequada para o consumo humano podem diferir dos indicadores de uma água considerada apropriada para irrigação de lavouras (Ritchie, Zimba, & Everitt, 2003).

As propriedades físicas, químicas e biológicas de águas superficiais podem ser afetadas pelo lançamento de materiais nos corpos hídricos por fontes pontuais e/ou não-pontuais. As fontes pontuais podem ser facilmente identificadas, por se tratarem de uma única fonte, como, por exemplo, uma tubulação. Já as fontes não-pontuais não são identificadas com facilidade, por serem difusas e são relacionadas à ocupação do solo e às águas pluviais (Ritchie et al., 2003).

O monitoramento e a avaliação da qualidade das águas superficiais são de extrema importância para a gestão de recursos hídricos. Atualmente, isso é embasado na coleta de amostras in situ seguida de análise laboratorial. Entretanto, esta coleta de amostras possui elevado custo financeiro, que não envolve somente a retirada de amostras de água do reservatório, mas toda a logística do processo (coleta, armazenamento e transporte das amostras). Além disso, embora essas medidas sejam acuradas para análises pontuais, não fornecem uma visão temporal ou espacial da qualidade da água, que é imprescindível para a avaliação desta (Cunha & Calijuri, 2010; Ritchie et al., 2003).

Nesse sentido, este trabalho objetiva avaliar a utilização de técnicas de sensoriamento remoto como alternativa para estimar parâmetros de qualidade da água de um reservatório de águas superficiais, o Lago Paranoá, em Brasília – DF, proporcionando análise espacial e temporal dos parâmetros selecionados.

O termo sensoriamento remoto consiste na aquisição de informações sobre um objeto sem que haja contato físico entre o objeto e o sensor. Recentemente, a expressão sensoriamento remoto tem sido utilizada, principalmente, para remeter à obtenção e análise de dados provenientes de satélites orbitais, que medem a interação dos objetos com ondas de radiação eletromagnéticas e cujas principais vantagens consistem na ampla visualização de vastas áreas e na possibilidade de representação de faixas não-visíveis do espectro eletromagnético (Jain & Singh, 2003).

O presente trabalho teve como área de estudo o Lago Paranoá, lago urbano artificial localizado em Brasília – DF, construído em 1959, a partir do represamento de águas do Riacho Fundo e do Ribeirão do Gama, ao Sul e do Ribeirão do Torto e do Córrego do Bananal, ao Norte, visando propiciar a recreação e o paisagismo (Machado & Baptista, 2016).

Por ser corpo receptor de efluentes das duas estações de tratamento de esgotos (ETEs) de Brasília, o Lago Paranoá passou por um processo de eutrofização, que teve o seu ápice em 1978, resultando em um considerável impacto ambiental, pela perda da qualidade de suas águas e impossibilidade parcial do objetivo do seu represamento. Todavia, as ações empreendidas para a recuperação da qualidade das águas do Lago Paranoá acarretaram a melhoria na remoção de nutrientes do tratamento das ETEs que o têm como corpo receptor (Pinto, Cavalcanti, & Luduvice, 1998).

Em outubro de 2017, com a inauguração da Estação de Tratamento Emergencial do Lago Norte, o Lago Paranoá passou a ser utilizado como manancial para abastecimento urbano, medida que visou a redução dos impactos da crise hídrica enfrentada pelo Distrito Federal (Lacerda, 2017).

Portanto, em função dos usos múltiplos do Lago Paranoá, o constante monitoramento e a avaliação da qualidade da água fazem-se necessários e, para este fim os algoritmos de processamento de imagens de sensoriamento remoto apresentam-se como uma alternativa.

Autor: Victor Alexsander Oliveira Silva.

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