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Avaliação da biodegradabilidade anaeróbia de efluente de canil

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a biodegradabilidade anaeróbia do efluente de canil em temperatura ambiente, por meio da obtenção do coeficiente de degradação da matéria orgânica (k) do ajuste do modelo cinético de primeira ordem aos dados experimentais. Foram realizados dois ensaios de biodegradabilidade, composto por um reator de vidro, no qual foi inserido 1,5 L de substrato (efluente do canil) e 324,15 mL do inóculo (lodo do filtro anaeróbio do canil), para o primeiro ensaio; e no segundo, 1,5 L de substrato e 35,85 mL do inóculo, de forma a estabelecer a Carga Orgânica Biológica (COB) entre 0,05 e 0,15 kg kg-1 na forma de [DQO] [SVT]-1, adotando no primeiro ensaio o valor de 0,1 kg kg-1 e no segundo ensaio COB igual a 1 kg kg-1 na forma de [DQO] [SVT]-1. Amostras foram coletadas para determinação da DQO, cujos resultados ao longo do tempo não possibilitaram realizar o ajuste estatístico da equação cinética de primeira ordem. Pois não houve decomposição do material orgânico de maneira eficiente em curto período de tempo e nem a estabilização das reações orgânicas. O pH do líquido nos ensaios apresentaram valores maiores que a faixa ótima de pH para o desenvolvimento das arqueias metanogênicas, em tratamentos anaeróbios, não apresentando boas condições às reações dos micro-organismos anaeróbios em função do pH. Explicando o comportamento insatisfatório e inesperado da degradação anaeróbia da DQO, além do pH, ressalta-se a relação DQO/DBO igual a 3,2 (fração biodegradável intermediário), fração inerte considerável como pelos dos cães, óleos e graxas e detergentes, que inibem a ação dos organismos decompositores anaeróbios; e a presença de Cu e Zn no efluente do canil, que apesar de relativamente pequena, 0,05 mg L-1 de Cu e 0,53 mg L-1 de Zn, os metais se acumulam no lodo, onde as concentrações podem ter sido maiores e os micro-organismos anaeróbios são mais sensíveis à presença de metais.

Introdução

Em todo abrigo ou lugar destinado ao alojamento e cria de cães há a geração de esgoto animal, proveniente da lavagem dos despejos das baias, e que tem potencial poluidor superior aos esgotos domésticos. Vê-se, portanto, a necessidade de tratamento adequado deste efluente, visto que geralmente se encontram afastados dos centros urbanos, fora da abrangência das redes coletoras de esgotos domésticos.

Não se encontra na literatura muitos registros de características físicas e químicas, nem de tratamento e reúso de dejetos provenientes de canis. Contudo, é interessante o conhecimento do potencial contaminante dessa água residuária que possui em sua maioria materiais de origem fecal, com presença de patógenos, elevada concentração de matéria orgânica e inorgânica, óleos e graxas e detergentes, utilizados na higienização das baias. Jaworski & Hickey (1962) verificaram valores de DBO, sólidos totais e sólidos voláteis da ordem 660
mg L-1, 1.630 mg L-1 e 1.230 mg L-1, respectivamente, na água residuária da lavagem de canil com 300 cães
em Washington D. C., nos Estados Unidos, após a raspagem das baias.

Para tratamento de efluentes como este, pode ser usada a digestão anaeróbia, que é caracterizada como um processo biológico onde ocorre a degradação da matéria orgânica carbonácea, na ausência de oxigênio molecular livre, por grupos de micro-organismos que transformam essa matéria orgânica em subprodutos, tais como lodo, líquido e gases. Seus principais benefícios são simplicidade e baixo custo de construção e operação.

Conhecer as características de biodegradabilidade do efluente é importante na estimativa da eficiência do tratamento. A biodegradabilidade é a capacidade de estabilização da matéria orgânica do efluente por microrganismos em processos bioquímicos, que dependem de fatores tais como as características da matéria orgânica, temperatura e a presença de substâncias inibidoras. O teste de biodegradabilidade consiste em estimar o coeficiente de desoxigenação ou de degradação da matéria orgânica (k) a partir do monitoramento da trajetória do consumo acumulado de oxigênio no tempo (VON SPERLING, 2014).

A fim de conhecer a cinética de degradação desse efluente como ferramenta para concepção e operação de sistemas de tratamento anaeróbios, o presente trabalho teve como objetivo conhecer a capacidade de degradação/estabilização anaeróbia da fração de matéria orgânica (DQO) degradável da água residuária de canil.

Autores: Aline dos Reis Souza; Dayana Cristine Barbosa Mafra; Hévelyn Silva Vilela; Daniela Vilela Landim e Ronaldo Fia.

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