BIBLIOTECA

Avaliação do aproveitamento da água condensada em edificação comercial de grande porte

Resumo

O presente artigo discute as possíveis fontes alternativas de água em uma edificação comercial de grande porte na região metropolitana do Espírito Santo, com foco na produção de água condensada para possíveis usos. Após uma análise preliminar de setorização de água na edificação o estudo mostrou que os maiores consumidores de água são torre de resfriamento, restaurantes e banheiros.

Como base de comparação para o balanço hídrico, a pesquisa avaliou as fontes de águas residuais mais relevantes neste caso: a água cinza, a água de chuva e a água de condensação. Foi constatado que a água cinza produzida foi de um total de 2.320,2 m³/ano, enquanto a oferta de águas pluviais demonstrou que esta seria uma fonte de água capaz de suprir 64.950,8 m³/ano de água. Com relação à produção de água de condensação, verificou-se que 01 TR é capaz de produzir 5,83 litros de água por dia, gerando um total de 3.501,6 m³/ano de água condensada. Apesar da água pluvial ser uma importante fonte hídrica no local em termos quantitativos, a água condensada possui um potencial de aproveitamento relevante posto que trata-se de uma água com boa qualidade e produção não sazonal. Avaliando o seu uso para abastecer a torre de resfriamento, a água condensada representaria 10% do volume de água consumido por essa unidade.

Introdução

Recentemente, o sudeste brasileiro sofre de uma escassez hídrica alarmante, em que no Espírito Santo a crise é referida como a pior dos últimos 40 anos, segundo a Agência Estadual de Recursos Hídricos (AGERH, 2015) e no estado de São Paulo é caracterizada como a maior estiagem que atingiu o estado nos últimos 84 anos (SABESP, 2014). Esse cenário trouxe efeitos adversos para os setores da economia devido às interrupções do abastecimento de água no meio urbano e, além disso, ao comprometimento do fornecimento de energia elétrica (FILHO, 2015).

Neste contexto, muitos municípios e estados têm adotado legislações que visam promover o reuso e o aproveitamento de águas residuais na tentativa de garantir o uso seguro dessas águas servidas, impactando não apenas edificações industriais, mas, sobretudo domésticas e comerciais.

Os shopping centers, por exemplo, são centros comercias com grande impacto sobre a demanda de água em meio urbano, já que, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE, 2017), eles atraem um tráfego de 444,26 milhões de pessoas todo mês e mais de 1 milhão de empregos diretos, exigindo uma alta demanda de água para sua operação e manutenção. Em termos de escassez de recursos hídricos e uso sustentável da água, a gestão dos shopping centers pode ter um papel protagonista e exemplar nas soluções para cidades mais resilientes e sustentáveis.

Ao estudar a distribuição do consumo de água no shopping Rio Sul, Nunes (2006) conclui que o sistema de refrigeração é responsável pelo consumo de 24,32% de água da edificação. Em grandes empreendimentos comerciais, destaca-se o sistema de refrigeração como o grande vilão no que tange ao consumo de água.

Dessa forma, a utilização de fontes alternativas de suprimento de água para o uso em pontos de consumo não potável vem sendo cada vez mais disseminada como uma opção de conservação (AGUIAR,2011). Mancuso e Manfredini (2005) mostraram que a utilização de água de reuso nas torres de resfriamento da subestação conversora de energia elétrica de Ibiúna, São Paulo, reduziu a captação de água superficial em termos de 25%, representando uma economia de 167 m³/dia de água potável.

Entre as ofertas de água comumente produzidas e disponíveis nas edificações estão: as águas pluviais, águas cinza e as águas de condensação. Diferentemente da água pluvial, a água cinza é produzida continuamente enquanto houver uso dos aparelhos sanitários. O reuso de águas cinza engloba a reutilização das águas oriundas de chuveiros, lavatórios, máquina de lavar roupas e louças mediante um sistema de tratamento (ALEXANDRE; CASTRO; PESQUERO, 2013).

Em centros comerciais como shopping centers, onde a produção de água cinza é relativamente pequena, o sistema de reaproveitamento pode não atender a demanda, inviabilizando economicamente a reutilização da água cinza nessas edificações (GOIS; RIOS; COSTANZI, 2015). Como alternativa, a associação de vários sistemas de aproveitamento e reaproveitamento de água pode ser vantajosa e representar uma economia significante no resultado final, e neste aspecto a água condensada é um importante aliado.

Nestas edificações de grande porte, o resfriamento do ar é feito através de unidades centrais, compostas geralmente por Torres de Refrigeração e Fancoils, onde ocorre a condensação da água. Segundo GLAWE (2013), o fluido frio (água gelada) é circulado através de bobinas na seção do evaporador com a finalidade de resfriar o ar. À medida que o ar flui sobre as serpentinas de arrefecimento, a umidade do ar condensa sobre a superfície fria das bobinas e goteja para dentro de uma bandeja de drenagem.

Licina e Sekhar (2012) apontam que o condensado tem sido utilizado como fonte de água em edifícios industriais e comerciais, uma vez que proporcionam uma fonte de água não potável de qualidade relativamente boa sem qualquer tratamento adicional necessário.

Mesmo a água de condensação sendo sazonal, dependendo fortemente do clima e da região (COOK; SHARMA; GURUNG, 2014), sua qualidade é comparável à da água destilada, exigindo pouco ou nenhum tratamento para aplicações não potáveis (LICINA; SEKHAR, 2012; NASSAR; MOURA, 2015), podendo ser utilizada contribuindo em sistema de água cinza, abastecimento em torres de arrefecimento ou para utilização em irrigação.

As previsões da quantidade de condensado que será gerado dependem de várias variáveis, incluindo a condições do ar externo, pontos de ajuste para condições de ar interno, aquecimento, ventilação, tipo de sistema, configurações de ar condicionado, tipo e uso do edifício (GLAWE; 2013). Segundo Al-Farayedhi, Ibrahim e Gandhidasan (2014), a média de produção de condensado de um ar condicionado do tipo split, localizado na Arábia Saudita, é de 53 litros de água por dia, vale ressaltar que a temperatura e a umidade relativa na região variam de 25°C a 50°C.

Estudos sobre o potencial de aproveitamento de água condensada em diversos locais de clima quente e úmido afirmam que devido à remoção de minerais durante o processo de evaporação, a qualidade do condensado é semelhante à água destilada (LICINA E SEKHAR, 2012; DRINKWINE, SOVOCOOL, MORGAN, 2012). Em geral, espera-se que a água obtida do vapor atmosférico seja de boa qualidade, com baixos teores de minerais e metais (HABEEBULLAH, 2009). Em estudo de Bryant e Ahmed (2008), os autores afirmam que a água testada teve boa qualidade e seria considerada aceitável para consumo humano com tratamento mínimo para contaminantes biológicos.

A alta qualidade da água condensada sugere que a implementação de uma estratégia de coleta pode levar a uma economia substancial, embora sazonal, e reduzir o impacto ambiental em diversas aplicações industriais nas quais é necessária uma água de melhor qualidade (LOVELESS; FAROOQ; GHAFFOUR, 2013).

Dessa forma, o presente projeto tem como objetivo avaliar o potencial de aproveitamento de água de condensação em edifícios comerciais de grande porte, baseado na quantificação e qualificação dessa fonte de água. O desenvolvimento desse trabalho contou com o apoio e a participação da empresa BR Malls, administradora do Shopping Vila Velha, onde foi realizado o estudo de caso.

Autores: Fernanda Ribeiro Guzzo; Graciele Zavarize Belisário e Ricardo Franci Gonçalves.

ÚLTIMOS ARTIGOS: