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Definindo resíduo valioso: o problema de definir massa como unidade de medida de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos

Resumo

O manejo de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEEs) é um desafio mundial devido ao seu volume crescente e seu potencial de poluição ambiental e danos à saúde humana. Além disso, REEEs tem em sua composição materiais críticos e de interesse econômico. Assim, a reciclagem de REEEs é importante tanto em termos econômicos, como ambientais. O sistema de manejo de REEEs hoje utiliza o peso (massa) como unidade única de medida, sem uma categorização rígida, o que traz distorções prejudicais para o sistema, pois (i) mascara quais componentes estão sendo processados domesticamente e quais estão sendo processados internacionalmente e (ii) faz com que recicladores que precisem atingir metas se dediquem a materiais de maior massa, ao invés de processar materiais tóxicos ou críticos. Uma análise dos componentes exportados para processamento posterior mostra que países como Brasil, Austrália e México atuam como concentradores de materiais valiosos, que exportam esse material depois de os terem coletado e os separado manualmente. Ademais, esse sistema de processamento internacional de resíduo permite que se defina quais são os componentes valiosos presentes nos REEEs: componentes cujo valor intrínseco supera o custo do transporte internacional podem ser considerados valiosos para um determinado país.

Introdução

Resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE ou WEEE, do inglês) são quaisquer equipamentos eletroeletrônicos descartados ou que chegaram ao fim da sua vida útil [1]. Dessa forma, REEE incluem equipamentos de grande demanda como computadores, celulares e televisores, mas também incluem diversos outros como rádios, máquina de lavar louça, forno micro-ondas, secador de cabelos, painéis fotovoltaicos e aparelho de ar condicionado [2]–[4]. Devido ao alto consumo e à vida útil curta, os REEE têm crescido de forma exponencial nos últimos dez anos e essa tendência deve continuar em anos vindouros [5]. Do ponto de vista ambiental, o manejo de REEE é de extrema importância, dado que esses resíduos geralmente possuem substâncias tóxicas em sua composição, que podem danificar o meio ambiente e causar problemas à saúde humana [6], [7]. Ademais, REEE tipicamente possuem materiais valiosos em concentrações superiores àquelas encontradas em seus minérios correspondentes [8]. Assim, a reciclagem dos REEE se faz importante, tanto do ponto de vista ambiental, quanto do ponto de vista econômico. Dentre os benefícios da reciclagem de REEEs, cita-se a recuperação de materias convencionais (e.g. vidro e alumínio), a recuperação de materiais valiosos ou críticos (e.g. prata, índio, gálio e germânio) [9]–[11], a redução dos gases causadores do efeito estufa [12] e o controle e manejo de metais tóxicos, retardantes de chama bromados e outras substâncias nocivas [13], [14].

A reciclagem de REEEs pode ser dividia em quatro etapas (Figura 1), as etapas iniciais envolvem a desmontagem dos equipamentos ou a cominuição dos mesmos. A etapa seguinte se utiliza da diferença de propriedades físicas para segregar os diferentes materiais, essa etapa inclui processos como o peneiramento, a separação por densidade, a separação magnética, a separação eletroestática, a separação por cor, entre outros. Em seguida, tem-se a terceira etapa que envolve os processos específicos (geralmente químicos) de cada classe de materiais: polímeros, cerâmicos e metais. Se necessário, pode-se implementar uma quarta etapa que envolve o refino dos materiais obtidos na etapa anterior. Os processos podem ser repetidos até que se tenha um material que sirva de matéria prima para a criação de novos produtos [15], [16].

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