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O reúso da água de efluente no polo petroquímico de Capuava – São Paulo

Resumo

A busca por alternativas sustentáveis visando à economia de água trás o reúso de efluentes tratados das estações de tratamento de esgotos como alternativa para minimizar problemas relacionados à escassez. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) apresenta características geográficas, demográficas e socioeconômicas extremamente complexas. Além disso, a região é um grande consumidor de água visto que concentra um grande número de indústrias e o Polo Petroquímico de Capuava no grande ABC. O Polo encontra-se entre o grande aglomerado urbano e industrializado da cidade de São Paulo, os municípios do Grande ABC e as áreas de preservação ambiental da represa Billing e da Serra do Mar. Seu abastecimento diário de água é estimado em 600 mil L/s (0,6m³/s), para suprir a necessidade dos processos industriais, principalmente o uso em caldeiras e no resfriamento do maquinário que funciona ininterruptamente. Esse consumo de água equivale ao de um município com aproximadamente 350.000 habitantes e devido a crescente demanda, em 2008 uma parceria do Polo Petroquímico, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e a Foz do Brasil, da Organização Odebrecht, anunciou o projeto de implantação de um sistema de abastecimento de água com efluentes tratados da Estação de Tratamento de Esgotos do ABC (ETEABC) com a finalidade de atender as demandas de empresas do Polo, visando não deixar faltar água tanto para a população, quanto para o desenvolvimento industrial dessa região. Com isso, o Aquapolo funcionando em sua capacidade máxima reduz o consumo de água potável pelas indústrias em um número capaz de atender a 300.000 pessoas da região do ABC. Logo, os benefícios para as indústrias do Polo Petroquímico com o reúso da água tiveram diversos fins, como: geração de energia, resfriamento de equipamentos, limpeza de ruas e praças, entre outros projetos industriais. Logo, o reúso é uma alternativa para usos que podem prescindir da água potável, tendo como consequência um volume muito grande deste recurso economizado.

Introdução 

A água é um recurso natural que se renova através dos processos físicos do ciclo hidrológico. Presente em toda a natureza é ainda parte integrante dos seres vivos, sendo essencial à vida. Sua escassez em determinadas regiões, ocorre principalmente devido às condições climáticas e por conta do desenvolvimento acelerado em áreas urbanas. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) insere-se nesse contexto, pois apresenta características geográficas, demográficas e socioeconômicas extremamente complexas (SABESP, 2013).

Considerando tais fatores, faz-se necessário a busca por alternativas sustentáveis que visem à economia de água, como é o caso do uso de água de efluentes tratados em estações de tratamento de esgotos.

O reúso da água de efluente vem como uma alternativa, pois, ele visa contribuir na minimização de problemas relacionados à escassez de água para as finalidades que podem prescindir da água potável, tendo como consequência um volume muito grande deste recurso economizado. Visto que hoje é possível se reduzir os poluentes a níveis aceitáveis, tornando a água apropriada para usos específicos através de operações e processos de tratamento.

Localizada próxima às cabeceiras do rio Tietê e seus formadores, além da necessidade de importação de água bruta de outras bacias, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) convive com dois problemas extremos: um associado às vazões de pequena magnitude e consequente baixa capacidade de diluição de cargas poluidoras de seus principais corpos d’água, e, outro, enfrentado anualmente nos períodos de verão, quando alguns municípios, inclusive o de São Paulo, vivem seríssimos problemas de inundação devido à baixa capacidade de escoamento de seus rios e a elevação do nível do rio Tietê (SABESP, 2013).

Na RMSP, na bacia do Alto Tietê (BAT), parte expressiva do uso da água é destinada ao uso industrial, conforme informações do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (2009). A indústria utiliza água em seus processos seja para resfriamento, aquecimento, solubilização, limpeza, geração de energia (elétrica, térmica, química). Para cada aplicação a qualidade da água deve apresentar padrões de qualidade que atendam ao processo, na qual será aplicada. Todos esses processos geram resíduos que, quando dispostos de forma inadequada, podem causar impactos na qualidade dos solos, aquíferos e rios. Para evitar a poluição dos corpos d’água receptores, as indústrias possuem sistemas de tratamento, capazes de controlar a concentração de alguns poluentes e atender as exigências estabelecidas pela Resolução CONAMA nº 357/2005 e Resolução CONAMA nº 430/2011. Estes tratamentos são implantados para que o descarte dos efluentes não altere a qualidade da água no meio receptor (SANTOS, 2014).

Diante do quadro de escassez dos recursos hídricos, através articulações de grupos e instituições na região e do novo marco legal das Leis de nº 7. 663/91 e 9. 443/97 os efluentes domésticos passaram a ser considerados como recursos hídricos, abrindo possibilidade de uso pelo Polo Petroquímico (PALLEROSI, 2010).

O Polo Petroquímico do ABC está localizado entre o grande aglomerado urbano e industrializado da cidade de São Paulo, os municípios do Grande ABC e as áreas de preservação ambiental da represa Billing e da Serra do Mar (PALLEROSI et KERBAUY, 2010). Seu abastecimento era feito inicialmente por meio da captação de água no rio Tamanduateí, através de seu afluente, o córrego dos Meninos. Mas, devido o quadro de deterioração que o rio sofreu ao longo da década de 80, a captação de água do rio Tamanduateí para abastecimento do Polo tornou-se encarecida e de qualidade ruim, provocando até corrosão nos maquinários das indústrias do Polo (PALLEROSI, 2010).

No ano de 2008 uma parceria entre a Sabesp e a Odebrecht Ambiental, possibilitou a criação de um projeto visando produzir água de reúso para as empresas do Polo Petroquímico de Capuava através de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), denominada Aquapolo Ambiental. A iniciativa permite substituir a água consumida pelas indústrias do Polo Petroquímico de Capuava, pela água obtida a partir do tratamento de esgotos, liberando volume suficiente para abastecer 300.000 pessoas (SCOPINHO, 2013). O projeto tem como objetivo transformar o esgoto, previamente tratado na Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) do ABC, em água adequada para o uso industrial.

Na Estação de Tratamento de Esgotos do ABC tem-se o principal fornecimento de água de reúso, feito ao Polo Petroquímico de Capuava, para uma vazão inicial de 600 L/s, podendo ser expandida para 1.000 L/s, sendo utilizada em torres de resfriamento e sistemas de geração de vapor das empresas do Polo. A operação foi iniciada em novembro de 2012 o investimento foi da ordem de R$364 milhões. As intervenções incluíram, além da construção de uma estação de água de reúso para fins industriais, a implantação de 17 km de adutora – que atravessam os municípios de São Paulo, São Caetano do Sul, Santo André e Mauá – e 3,6 km de redes de distribuição, opera atualmente fornecendo aproximadamente 400 L/s para dez plantas industriais situadas dentro do polo petroquímico: Braskem(4), Cabot, Oxicap, Oxiteno (2) e White Martins (2) (SABESP, 2013).

A estrutura que produz a água de reúso foi erguida dentro da ETE-ABC, localizada na divisa de São Paulo com São Caetano do Sul. O efluente da estação, que antes era lançado nos corpos d’água, agora é matéria‐prima para a produção da água de reúso. Além disso, atende a todos os padrões da Resolução CONAMA nº 357/2005 e da Resolução nº 430/2011 do Ministério do Meio Ambiente. Enquadrando-se em todos os padrões de qualidade para lançamento em rios e/ou córregos (SABESP, 2013).

Para fazer frente à situação de escassez hídrica presente na RMSP, o reúso de água, especialmente o reúso de efluentes gerados a partir do tratamento de esgotos, desponta como uma alternativa. O favorecimento de técnicas que tragam maior economia e eficiência no uso dos recursos naturais trás grandes benefícios ambientais à região. Neste sentido, a água de reúso do Aquapolo tem ajudado a não deixar faltar água tanto para a população, quanto para o desenvolvimento industrial da RMSP.

Autores: Sâmia Rafaela Maracaípe Lima; Eduardo Ueslei de Souza Siqueira e Layse de Oliveira Portéglio.

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