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A influência do uso e ocupação do solo na qualidade da água

Introdução: Desde algumas décadas a área técnico-científica se deu conta dos efeitos que as intervenções humanas podem ter na qualidade dos recursos naturais. Os efeitos das ações humanas se fizeram notáveis inicialmente na qualidade do ar e da água e foram as razões do desenvolvimento de grande parte dos primeiros estudos na área ambiental. Hoje se pode afirmar que existe um consenso de que as alterações que ocorrem na qualidade da água são fruto, de forma direta ou indireta, das atividades humanas que de alguma forma têm contato com a água, sendo usando-a para suas atividades agropecuárias, industriais ou urbanas, seja incorporando a esse recurso substâncias estranhas à sua composição original. Cook et al. (1997) sintetizam a influência do solo na qualidade da água em quatro processos: erosão e sedimentação, escoamento e lixiviação, disposição de resíduos urbanos, e lançamento de resíduos no solo. Os autores destacam os efeitos advindos de diferentes práticas de manejo e conservação do solo; classificando-as em positivas, neuras e negativas para a proteção dos mananciais de superfície e subsuperfície (Tabela 1).

Tabela 1: Benefícios para a qualidade da água advindos de práticas de manejo e conservação do solo

Prática Água Superficial Água Subsuperficial
Plantio direto + N
Curvas de nível + N
Cobertura morta + N
Drenagem de subsuperfície +/- +/N
Terraceamento + N

Fonte: Adaptado de COOK et al. (1997).

Dentre os processos citados por Cook et al. (1997), sem dúvida a erosão é que maior influência tem na qualidade da água. Tal situação ocorre porque a erosão (natural ou acelerada) se manifesta em praticamente todos os ambientes do planeta, ocorrendo de forma distribuída o que resulta no conjunto, em grandes transformações em escala global. Nas áreas rurais e periurbanas os processos erosivos são antigos no Brasil e decorrem de práticas inadequadas de manejo. Castro e Queiroz Neto (2010) mostram que tais processos existem desde o século IXX, e relatam perdas totais de solo por erosão no Estado de São Paulo de 215.666 ton./ano ou 8,7 ton./ha, especialmente em áreas agrícolas e de pastagem. Silva, Alves e Watanabe (2011) classificaram o território brasileiro com base no NPE (Natural Potential for Erosion) considerando dados de solo, uso da terra, relevo e clima; mostrando que os maiores potenciais erosivos se concentram na região centro-oeste do estado do Mato Grosso do Sul (maior que 1.600 ton./ha/ano). Considerando as áreas de pastagem cultivadas, Spavorek, Correchel e Pereira Barretto (2007) destacam que os principais impactos decorrentes destes processos erosivos são o assoreamento de reservatórios, a degradação dos recursos hídricos, a redução da vida útil de reservatórios de barragens, induzindo a redução da biodiversidade. Chaves (2008) define que 28% do território brasileiro estão em áreas de cultivo e pastoreio, nas quais sistemas convencionais de produção produzem erosões que excedem 20 ton./ha/ano, resultando mais de dois bilhões de ton. de sedimentos carreados para rios e lagos, com custos de U$ 1 bilhão/ano. Os danos provocados pela erosão podem ser estimados em termos de efeitos on-site (solo e seu uso) e off-site (consequências sociais e econômicas). De acordo com Telles e Guimarães (2009) os custos unitários de perdas de nutrientes no solo podem variar de U$ 0,06 a U$ 0,37, resultando perdas totais de US$ 1,4 bilhões no Vale do São Francisco, e US$ 1,7 bilhões no Estado de São Paulo. Pimentel et al. (1995) sintetizam as principais perdas decorrentes dos processo erosivos em áreas de cultivo e pastagem com as seguintes informações: cada ano 75 bilhões de toneladas de solos são removidas pela erosão provocada pelo vento e pela água, degradando solos agricultáveis; em todo o mundo 12.106 hectares de terras aráveis são destruídas e abandonadas por ano; cerca de 80% das terras destinadas à agricultura sofrem erosão moderada a severa, e cerca de 10% apresentam erosão leve a moderada; as áreas de cultivo são as mais suscetíveis a tais processos, porém as taxas erosivas excedem 100 ton./ha/ano em áreas de pastagem com uso intensivo. Segundo Farage (2009), ao promover o carreamento de fertilizantes para os corpos hídricos e cargas de efluentes domésticos a erosão aumenta a disponibilidade de nutrientes nesses ambientes, podendo gerar eutrofização. Em lagos e reservatórios, além de prejuízos à vida aquática, tal processo favorece proliferação de algas com sérios efeitos danosos à qualidade da água. Para NRCS (2011), a deposição dos sedimentos provenientes dos processos erosivos representa o principal problema de qualidade de mananciais de superfície. Destaca ainda que tais danos são ainda mais intensos quando a carga de sedimentos contém substâncias oriundas de processos de cultivo da terra quando o carreamento dos sedimentos se dá por escoamento superficial devido às precipitações concentradas (como tempestades). Comparando parâmetros de qualidade da água de dois córregos de subbacias da bacia do rio Pirapó, Schneider et al. (2011) verificaram que apesar do córrego Romeira estar sujeito à intensa degradação decorrente de atividades agrícolas, o córrego Mandacarú, situado na área urbana e sujeito ao lançamento de resíduos e efluentes apresentava maior comprometimento da qualidade da água. Ao analisar a qualidade da água de treze subbacias do rio Itapemirim durante o período de seca, Freire e Castro (2014) concluíram por análise canônica que os maiores índices de degradação da água estavam associados a maior atividade humana, em particular a pecuária bovina sem manejo adequado do solo. Pinheiro et al. (2014), trabalhando em bacia cujo uso é 87% constituído por fragmentos de Floresta Ombrófila Densa, analisaram seis seções fluviométricas ao longo do ribeirão, e verificaram que há redução na concentração dos analitos nos com áreas preservadas por vegetação natural. Com relação às águas subterrâneas, Eckhardt (2014) lista as relações entre uso do solo e contaminantes e destaca que os fatores principais que regem a circulação dos mesmos das áreas fontes até os poços são: a natureza química do contaminante, as propriedades físicas do solo de recobrimento e da unidade aquífera, o volume e a velocidade da recarga do aquífero, e a direção e velocidade do fluxo subterrâneo. Mercado-Feliciano (2014) destaca que com relação aos riscos à saúde humana decorrentes da contaminação de mananciais de subsuperfície, o processo envolve avaliações complexas que devem considerar não só a probabilidade da exposição do ser humano à substância, mas também os efeitos na população em geral e em subpopulações mais sensíveis (como crianças), a tecnologia disponível para a detecção do contaminante, e os impactos de sua regulação na infraestrutura e na economia. Em resumo, ao utilizar a água com recurso para suas atividades, as sociedades humanas foram incorporando cada vez mais processos e matérias a ela resultando quase sempre na incorporação de substâncias que prejudicam a qualidade desse recurso para boa parte das necessidades do ser humano e de outras espécies do planeta. No entanto, as diferentes naturezas das intervenções humanas fazem com que os processos associados e os insumos utilizados em cada uma delas resultem alterações de qualidade da água diversas. Analisando dados de 118 pontos da bacia do rio Han na Coréia do Sul, Chang (2008) pode identificar tendências claras entre expansão urbana e perda de qualidade da água expressa em termos de OD e de nitrogênio total, como se observa na Figura 1. (…)

Autor:  José Augusto de Lollo.

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