BIBLIOTECA

Caracterização físico-química do efluente de uma farmácia de manipulação

Resumo: As farmácias de manipulação vem se desenvolvendo cada vez mais, com substâncias químicas inovadoras gerando uma grande quantidade de resíduos para o meio ambiente. O objetivo deste trabalho foi determinar as características físico-químicas do efluente gerado em uma farmácia de manipulação e comparar os resultados de acordo com a legislação ambiental vigente. O efluente analisado foi proveniente dos laboratórios de uso interno e de uso externo de uma farmácia de manipulação situada na cidade de Pelotas. Realizou-se durante três meses, três coletas em cada laboratório, e analisou-se dez parâmetros em cada coleta. O efluente foi caracterizado quanto a concentração de nitrogênio total Kjeldahl, fósforo, demanda química de oxigênio (DQO), surfactantes, ferro, óleos e graxas, pH, turbidez, cor, temperatura. No laboratório de uso externo o efluente apresentou valores máximos de cor em 5,2 mg Pt-Co/L; pH 9,1; turbidez 613,66 UNT; temperatura 23,6°C; nitrogênio total Kjeldahl 603,27 mg/L; fósforo 212,01 mg/L; DQO 6435,00 mgO2/L; surfactantes 486,38 mg MBAS/L; óleos e graxas 4352,94 mg/L. No laboratório de uso interno a cor apresentou valor máximo de 3,90; pH 8,00; turbidez 427,19 UNT; temperatura 23,5°C; nitrogênio total Kjeldahl 2212,00 mg/L; fósforo 102,75 mg/L; DQO 2613,60 mgO2/L; surfactantes 109,05 mg MBAS/L; óleos e graxas 950,00 mg/L; ferro 4,70 mg/L. Os resultados mostraram a necessidade e a importância do tratamento do efluente estudado.

Introdução: A farmácia é um estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais eoficinais, comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos. É definida, também como a arte ou a profissão de preparar e preservar fármacos e, de manipular e dispensar medicamentos de acordo com a prescrição médica. Até o final do século XIX era comum o uso de preparações de produtos naturais de substâncias brutas, chamadas de drogas, que continham diferentes princípios ativos utilizados para o tratamento de doenças. Estas preparações tinham como matéria-prima plantas e animais, que eram prescritas em fórmulas magistrais. Eram preparadas artesanalmente em farmácias, conhecidas como boticas, e seu uso baseava-se apenas no conhecimento coletivo das plantas e animais. A manipulação consiste em um conjunto de operações com a finalidade de elaborar medicamentos e fracionar produtos industrializados para uso humano. Usando um método tradicional de preparo de medicamentos personalizados, visa o atendimento de necessidades específicas, e às vezes únicas do profissional prescritor (médico, dentista ou veterinário) e do paciente. Os medicamentos são produtos tecnicamente elaborados, com a finalidade de diagnosticar, prevenir, curar doenças ou então aliviar os seus sintomas e, também, para modificar determinados estados fisiológicos. As formas farmacêuticas se dividem em sólidas, semi-sólidas e líquidas, sendo as sólidas a maior porção das preparações aviadas na farmácia de manipulação. Dentre as sólidas temos os pós, que são misturas de fármacos ou substâncias químicas, secas e finamente divididas, que podem ser destinadas para uso interno (pós orais) ou externo (pós tópicos). Compreendem produtos como vitaminas, aminoácidos, anti-hipertensivos, anti-inflamatórios, diuréticos, psicotrópicos (controlados), produtos ortomolecualares (alguns exemplos: ferro, fósforo, cálcio, magnésio), xaropes, anti-alérgicos, fitoterápicos (extratos secos, tinturas) de uso interno antibióticos, corticóides, ácidos (alguns exemplos: bórico, salicílico, retinóico, glicólico), hidratantes (uréia, PCaNa, lactato de amônio), regeneradores (alantoína), anti-alérgico de uso externo. As semi-sólidas e líquidas se destacam os cremes, loções, shampoos, géis, sabonetes, pomadas e filtros solares. De maneira geral, a atividade farmacêutica pode ser classificada de acordo com o processo de fabricação utilizado, em fermentação, síntese química, extração e formulação. Os efluentes gerados em cada um dos processos produtivos apresentam características distintas e quantidade variada. São caracterizados por uma fração orgânica rapidamente biodegradável e compostos refratários, que não são removidos por tratamentos biológicos convencionais, como no caso da formulação de antibióticos, cujo efluente apresenta baixa biodegradabilidade. Mais recentemente, compostos farmacêuticos têm sido detectados no solo e na água potável, mas pouco se conhece sobre o risco imposto aos humanos por esta contaminação. Diante destas constatações, o monitoramento de resíduos de drogas no ambiente aquático tem ganhado muito interesse. O monitoramento de substâncias específicas, também chamado de monitoramento químico, é realizado através da identificação e quantificação de substâncias potencialmente tóxicas no efluente, para as quais foram estabelecidos limites de emissão. Os limites de emissão estão previstos na legislação e se referem às máximas concentrações permitidas de determinadas substâncias possivelmente presentes em efluentes líquidos lançados em corpos d’água superficiais. A nível Federal, as especificações dos limites de emissão de efluentes encontram-se na Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente [3] nº 357 de 17 de março de 2005 que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. A nível Estadual encontram-se a Resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente [13] n° 128/2006 de 24 de novembro de 2006, que dispõe sobre a fixação de padrões de emissão de efluentes líquidos para fontes de emissão que lancem seus efluentes em águas superficiais no Estado do Rio Grande do Sul. A Resolução do CONSEMA [14] n° 129/2006 que dispõe sobre a definição de Critérios e Padrões de Emissão para Toxicidade de Efluentes Líquidos lançados em águas superficiais do Estado do Rio Grande do Sul. Com a legislação ambiental cada vez mais rígida e os prejuízos advindos do não cumprimento desta legislação apresentando um custo muito alto, muitas indústrias estão procurando sistemas eficazes que provoquem a redução de seus impactos ambientais e que possuam custo compatível.Pouco se conhece sobre o risco imposto aos humanos, mas somente será possível propor um tratamento adequado aos resíduos quando estes estiverem bem conhecidos e quantificados, ou seja, a determinação qualitativa e quantitativa dos resíduos gerados em uma farmácia é imprescindível, pois possibilita a implantação de novos métodos e procedimentos que eliminem os desperdícios e minimizem perdas decorrentes do processo produtivo. A literatura revela que além de, praticamente não existirem trabalhos no tratamento e na caracterização de efluentes farmacêuticos, também não existem estudos envolvendo tecnologias de tratamentos inovadores para este tipo de efluente. O objetivo deste trabalho foi determinar as características físico químicas do efluente gerado em uma farmácia de manipulação e comparar os resultados com a legislação ambiental vigente.

Autora: Valdirene Silveira Nunes.

Leia o estudo completo: Caracterização físico-química do efluente de uma farmácia de manipulação

ÚLTIMOS ARTIGOS: